opinião

Pensamento político de Alberto Pasqualini



"Defendemos a tese de que todo ganho ou remuneração deve prover de uma atividade socialmente útil e que onde há ganhos sem correspondência num trabalho dessa natureza, existe apenas parasitismo e usura social, isto é, uma forma de exploração do homem pelo homem."

"O poder aquisitivo deve ser a contrapartida do trabalho socialmente útil. Esse trabalho é o único e verdadeiro lastro da moeda. A posse de poder aquisitivo que não derive dessa forma de trabalho representa uma apropriação injusta do trabalho alheio e se caracteriza como usura social."

Os dois parágrafos acima pertencem à doutrina trabalhista, exposta por Alberto Pasqualini em seu "Pensamento Político". Ajudam-nos a compreender os tempos em que vivemos e uma das causas que entravam o nosso desenvolvimento. O consumidor é a primeira peça na cadeia econômica e do seu poder aquisitivo deriva todo o impulso necessário para o desenvolvimento. A concentração da renda nacional limita nosso mercado consumidor e urge que sejam tomadas medidas modificadoras desse processo perverso.

O Banco Central vem regulamentando a taxa de juros que o governo paga aos tomadores de seus títulos, mas nada tem sido feito para coibir a agiotagem generalizada praticada pelos bancos contra seus tomadores de empréstimos e usuários de cartões de crédito. Essa usura social praticada pelos detentores do poder econômico vem se constituindo num entrave ao nosso desenvolvimento de vez que limita, drasticamente, o poder aquisitivo da população.

O comércio, de uma maneira quase generalizada, deixou de exercer sua função social de distribuidor de mercadorias para tornar-se um braço do sistema financeiro, que usufrui lucros exorbitantes através de vendas a prazo com juros que vão a mais de 200% ao ano. Essa agiotagem desenfreada, permitida por governos omissos, que não se preocupam em cumprir as regras da Constituição, é a causa da redução drástica do poder aquisitivo da população que deixa de adquirir bens necessários por não poder pagar os preços irreais das mercadorias à venda.

As mercadorias passaram a ser um mero referencial. O verdadeiro objetivo das vendas a prazo é o lucro exagerado e antissocial que vampiriza nosso poder aquisitivo e concentra, cada vez mais, a renda nacional nas mãos de poucos usuários. Não é por outro motivo que nosso sistema bancário (incluindo os bancos oficiais) vem apresentando lucros bilionários, escarnecendo da pobreza generalizada em que a maioria dos cidadãos vive.

"O crédito deveria ter uma função essencialmente social de vitalizar todas as atividades e energias criadoras, de estimular as iniciativas e empreendimentos socialmente úteis, de antecipar aos menos favorecidos os meios de trabalho ou satisfazer necessidades fundamentais, de proporcionar ao Estado os recursos para as realizações de interesse coletivo. Enquanto não modificarmos nossas ideias e concepções sobre a função do crédito, enquanto não lhe prescrevermos outra disciplina, enquanto não criarmos outro sistema coletor e distribuidor de recursos monetários, enquanto não o fizermos funcionar, não de acordo com os interesses de uma minoria, mas de acordo com os imperativos de nossa economia e os princípios da justiça social, é inútil pensar em outras reformas, pela simples razão de que lhes faltará sempre a base financeira para sua execução). (A.Pasqualini - discurso perante o Senado Fedral em 8/04/1954).

Atualmente, estamos perto (se já não passamos) dos 50% de nossa arrecadação total de impostos comprometida com o pagamento de juros da dívida interna. Urge estancar essa "sangria desatada", responsável pela carência absoluta de recurso para investimentos, o que paralisa a Nação.


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